Não é exagerado dizer que toda fábrica sofre com problemas de segurança industrial em alguma escala.
Dados atualizados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, do Ministério Público do Trabalho (MPT) mostram que, em 2021, foram comunicados 571.786 acidentes, aumento de 28% em relação a 2020, que teve 446.881 casos.
Quando analisamos o número de mortes no mesmo período, temos 2487 em 2021 contra 1866 em 2020, um aumento de 33%.
É possível que esse crescimento seja por conta de um efeito rebote da pandemia, mas não é possível descartar más práticas de gestão e execução de tarefas dentro do chão de fábrica.
Ainda hoje, muitas manufaturas se agarram a processos pouco eficientes e seguros por não terem investido na renovação de suas tecnologias de produção. Além do prejuízo financeiro por não se manterem competitivas no mercado global, as empresas também põem em risco a saúde de seus trabalhadores.
Abaixo, analisamos alguns desses aspectos com maior detalhe.
Dados de acidentes de trabalho no Brasil em 2021
Acidentes são um dos principais problemas de segurança no trabalho no Brasil. Depois de um período de queda, entre 2013 e 2017, os anos de 2018 e 2019 voltaram a apresentar crescimento nos acidentes.
2020 viu uma baixa histórica (3º menor número de acidentes) por conta da paralisação das atividades em decorrência da pandemia, mas 2021 já apresentou novo crescimento de acidentes registrados (dados do Smartlab do Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho).
Vale destacar também que uma grande quantidade de acidentes ainda é subnotificado e não entra nas estatísticas oficiais, por isso, os números reais podem ser muito maiores - a estimativa de subnotificações para 2021 ficou na casa dos 115 mil casos.
Em números de morte, 2021 voltou ao mesmo patamar de 2013 após anos de queda - um dado assombroso e que deve ser assimilado pelos gestores de linha produtiva.
Dentre os estados brasileiros, não é surpresa que São Paulo lidere o número de notificações, com 35% das notificações do país, seguido de Minas Gerais (11%), Rio Grande do Sul (8%) e Paraná (8%).
Quando os números são analisados tendo em vista o proporcional de 10 mil habitantes, os estados com maior número mudam para: Rio Grande do Sul (154 casos para 10.000 habitantes), Mato Grosso (150 casos para 10.000 hab.) e Espírito Santo (148 casos para 10.000 hab.).
Já sobre os afastamentos, foram 153,3 mil benefícios previdenciários em decorrência de acidentes também em 2021, ainda de acordo com os dados do CAT compilados pelo SmartLab.
Dados do SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação) compilados pelo Observatório de Saúde e Segurança apontam para um total de 47% dos acidentes como sendo graves.
Problemas de saúde por atividades repetitivas ou perigosas
LER e DORT representam 4% das notificações por lesões de trabalho no Brasil, mas nem por isso são menos preocupantes.
Atividades monótonas e repetitivas também estão mais sujeitas a acidentes porque os trabalhadores acabam se distraindo inevitavelmente após algum tempo - o que acaba exigindo mais pausas no serviço e impacta no downtime total da linha.
Problemas ergonômicos
Atividades monótonas e repetitivas podem não apenas deixar os trabalhadores mais sujeitos a acidentes no local de trabalho, como os problemas de LER e DORT decorrem de desafios de ergonomia no espaço de produção.
O chão de fábrica custa caro e costuma estar comprometido para máquinas e equipamentos, inserir pessoas em meio a tantos materiais sem deixar que sejam feridos pelo movimento de peças, gases tóxicos, prensas etc. é um imenso desafio.
E problemas ergonômicos não envolvem apenas movimentos repetitivos, mas o levantamento de peso decorrente de paletização e empacotamento, o manuseio de máquinas e equipamentos pesados etc.
As fábricas que querem se manter competitivas e atualizadas com o mercado precisam levar a sério os problemas ergonômicos em seu espaço de trabalho nos próximos anos.